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Foto do escritorLuiza Machado Pontes

Apesar das emoções fazerem parte da experiência de qualquer ser humano, quando falamos sobre esse assunto adentramos num território ao mesmo tempo familiar e complicado. Afinal, quem nunca teve problemas para lidar com as próprias emoções? Isso se dá porque as emoções envolvem um processo complexo de elaboração e transformação ao longo do tempo ganhando contornos únicos no universo de cada pessoa.


As sensações corporais de prazer e desprazer fornecem a base para a percepção das emoções mais simples que vão se esboçando desde o momento em que nascemos. A maneira como somos recebidos no mundo e cuidados ao longo de todo o processo de desenvolvimento é crucial para a construção do modo como nos percebemos e, consequentemente, para a forma como conseguimos ou não lidar com nossos sentimentos.



O que significa autorregulação emocional?


De forma bem simples, a autorregulação emocional é um processo dinâmico que envolve a capacidade de retomar a sensação de estabilidade após experimentar uma emoção mais intensa. A capacidade de regular nossas emoções é construída ao longo da infância por meio do contato estabelecido com as principais figuras cuidadoras, independente de quem assumiu esse papel. A qualidade dos vínculos influencia diretamente no modo como lidamos com nossas próprias emoções. Quanto maior o suporte, o acolhimento, a contenção e a orientação dos cuidadores diante das expressões emocionais infantis maior será a capacidade autorregulatória na vida adulta.


Por outro lado, quando os cuidadores são excessivamente rígidos, controladores e/ou emocionalmente indisponíveis há pouco espaço para as expressões emocionais infantis. A criança internaliza esse padrão de cuidado e, muito provavelmente, apresentará dificuldade para lidar com suas emoções mais genuínas - seja a raiva, o medo, a tristeza, a frustração, a afeição etc. Internalizar um padrão rígido demais que não permite o contato interno faz com que sejam acionados diferentes mecanismos para bloquear ou minimizar as sensações desprazerosas a qualquer custo, como, por exemplo: através do uso de bebidas alcoolicas e/ou outras drogas, jogos de azar, uso excessivo de redes sociais, relações sexuais desprotegidas, compulsão alimentar e/ou por compras etc.


Situações traumáticas como abusos sexuais, violência doméstica, acidentes de carro, desastres naturais etc, vividas na infância ou na vida adulta, também podem interferir de maneira brutal na capacidade autorregulatória caso não sejam devidamente cuidadas.


Como desenvolver a autorregulação emocional?


Existem algumas estratégias que auxiliam no desenvolvimento da capacidade autorregulatória, porém não existe uma fórmula mágica que funcione igualmente para todo mundo.


Primeiro ponto é importante compreender qual a extensão do problema que estamos lidando. É possível nomear uma emoção que está mais difícil de lidar? Houve alguma situação que provocou tal sentimento? Como tem afetado seu cotidiano? Como a dificuldade de lidar com as emoções está prejudicando seus relacionamentos e/ou trabalho?


São apenas algumas perguntas que podem ajudar a encontrar um caminho de compreensão. Esse movimento de tentar compreender o que está acontecendo é o primeiro passo para conseguir encontrar soluções para o problema. Uma estratégia que pode ser utilizada nesse momento é a escrita livre ou automática, tentando escrever o que está sentindo e tudo o mais que vier a mente sem censura, por mais absurdo ou sem sentido que possa parecer. Colocar para fora, por mais que ninguém leia o que foi escrito, pode ajudar a aliviar o desconforto e ler o material pode trazer algum entendimento sobre a situação.


Outro recurso que pode ser acionado é o seguinte exercício: sentar em uma cadeira com apoio para as costas e que você consiga colocar os pés no chão. Outra opção é sentar diretamente no chão com as costas apoiada na parede. É importante sentir o apoio de alguma superfície. Nessa posição, procure entrar em contato com seu corpo. Sinta o contato dos pés com o chão, o apoio das costas na parede ou encosto da cadeira. Perceba como está sua respiração nesse momento e procure soltar todo o ar. Atenção na expiração! Acolha suas sensações, pensamentos, percebendo possíveis tensões corporais. Imagine que seus pensamentos e emoções são como ondas, eles vem e passam. Acolha-os e deixe-os passar. Sinta o ar entrando e saindo. Faça o tempo que for possível ou até se sentir mais relaxado.


É válido também pensar se existe alguma atividade que você aprecia e que te ajuda a se sentir mais calmo e que, de preferência, não envolva nenhum possível dano pessoal (bebida, drogas, jogos, compras etc). Caminhada, pintura, tocar instrumento, ouvir música, cantar, dançar, brincar com animal de estimação, assistir um filme, tomar um banho morno, encontrar uma pessoa querida... Muitos são os recursos que podem auxiliar no processo de autorregulação emocional e que talvez você não esteja dando a devida atenção.


Contudo, nenhuma dessas atividades substitui o olhar profissional e a psicoterapia é um espaço privilegiado para o desenvolvimento da capacidade autorregulatória. No processo psicoterapêutico é possível mapear os percalços vividos ao longo do desenvolvimento que podem estar aflorando na vida adulta diante de um novo problema, bem como cuidar dos efeitos nocivos deixados por situações traumáticas. Com a ajuda da psicoterapeuta também é possível construir outras ferramentas para compreender suas emoções e aprender a lidar cada vez melhor com elas.


É importante ressaltar que as variações emocionais fazem parte da existência e são importantes de serem vividas, por mais difíceis que sejam. No entanto, caso exista um nível de sofrimento e/ou instabilidade emocional muito intensos e persistentes, que estejam prejudicando diferentes esferas da vida, é necessário procurar o auxílio de um profissional qualificado o quanto antes! As emoções podem ser nossas aliadas, pois sinalizam quando algo não vai bem. Dê atenção a elas e não negligencie seu sofrimento.




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